sexta-feira, 8 de maio de 2009

Livre Arbítrio

eu ou vc?
carta ou e-mail?
praia ou campo?
vodca ou tequila?
aceitar ou negar?
tentar ou desistir?
sozinho ou acompanhado?
novamente ou nunca mais?
nova iorque ou amsterdã?
esquerda ou direita?
aquele ou esse?
dizer ou calar?
.
"Você faz o que parece ser uma simples escolha: escolhe uma pessoa, um emprego, ou um bairro e o que você escolheu não é uma pessoa homem, um emprego, ou um bairro, mas uma vida."

Comercial Unimed



Rs...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Do Começo Ao Fim

"Do Começo ao Fim" trata da relação bastante próxima e controvertida entre dois irmãos, com uma levada de homoerotismo. O diretor é o mesmo de "Um Copo de Cólera" e "Três Marias". Com Júlia Lemmertz, Fábio Assunção, Jean Pierre Noher, Louise Cardoso. Apresentando Lucas Cotrim, Gabriel Kaufmann, Rafael Cardoso e João Gabriel.


[Valeu pela indicação André.]

terça-feira, 5 de maio de 2009

Making off - Meníaco

Ontem passei o dia inteiro gravando Meníaco, desde às nove horas da manhã até uma e meia da madrugada de hoje(quando cheguei em casa). Embora tenha sido um tanto quanto desgastante [sem falar no frio que passei nas cenas externas] esse primeiro dia valeu a pena.

Valorizando e variando nuances de luz e sombra, a fotografia do filme apresenta, entre outros elementos, influência noir. O clima e a ambientação são de suspense/ficção, com um estilo que remontará a séries como “Além da Imaginação” e “Amazing Stories”.



Não posso deixar de registrar aqui a paciência do diretor Bruno Dias, respondendo todas minhas questões e co-construíndo, de perto, minha personagem, assim como a atenção que recebemos de toda equipe.


Meníaco conta três histórias:

A história de um garoto tímido, inseguro, que não tem coragem de se aproximar da garota que ama, e acaba deixando-a passar por sua vida.
A história de um homem frustrado com seu presente e obcecado com o seu passado.
E a história de um homem já idoso, extremamente infeliz e nostálgico.


O ponto em comum dessas narrativas é que todas elas são sobre o mesmo personagem, mas em períodos distintos do tempo. Em Meníaco, os três personagens se encontram no mesmo local, determinados a mudar sua própria história. O conflito se dá porque, apesar de serem a mesma pessoa, eles não possuem exatamente os mesmos interesses. Terá início uma disputa pela garota amada, pela liberdade, por um futuro melhor, em um jogo de mentiras e traições.


Apesar de remeter a filmes como "Corra Lola Corra", "Babel", "Crash, no Limite", entre outros, em Meníaco o que está em questão não é como as nossas atitudes podem influenciar a vida alheia, mas como o livre arbítrio ditará o rumo de nossa vida, e embora tais atitudes repercutam na vida de outras pessoas, em Meníaco, a reflexão é mais pessoal que coletiva.

domingo, 3 de maio de 2009

Cena 11



Depois de ter lido, há anos, o livro "A Dança Dos Encéfalos Acesos", de Maíra Spanguero, ter tentado e nunca conseguido assistir algum trabalho do grupo [por n motivos], finalmente pude conferir "Pequenas Frestas de Ficção Sobre Realidade Inexistente", do Cena 11. O domínio dos intérpretes sobre o corpo salta aos olhos, assim como as infinitas possibilidades de relação entre dois corpos, os aparatos tecnológicos dialogando com o corpo-máquina ( ou seria máquina-humanizada?) o corpo e o espaço, o corpo e o objeto, enfim... as reflexões acerca do hidridismo do corpo. Mas o que mais me intrigou foi como o desequilibrio estava sempre presente nesse vai-vém da ficção sobre a realidade, e a utilização do vídeo no espetáculo, criando concomitantemente - à partir dos interpretes e do público - um outro espetáculo: o de video-dança. Incrível.




"...uma fábula feita da colagem de ações, objetos, corpos, imagens e movimentos que se fortalecem das características que as definem para ganharem novos significados ao se inter-relacionarem. Um músculo cansado, respirações ofegantes, peso do corpo, força bruta, vestígios de dança, um espantalho, um brinquedo, um soldado de chumbo, cavalos, expectativas, caixinhas de música, memória, tempo dilatado, saudades, o velho, vingança, liberdade e realidade. Um conto. O corpo procura parceiros para sua dança. A dança procura meios para perceber-se real. Ficção e realidade intercalam seus lugares e assim contam histórias. Peso e desequilíbrio como recurso de anti-vaidade, a autoria da ação divide assinaturas entre gravidade, ossos, músculos, cérebros e espectadores. Dança como vestígio. Dança para não ter poder. Tempo para entendermos o tempo. "


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Por outro ponto de vista


...cruzou com uma criança de gorro rosa que lhe abriu um sorriso brilhante, seguiu, levou a mão cor da pele até o bolso esquerdo preto, pegou um isqueiro azul piscina, acendeu um cigarro branco de filtro amarelo, olhou pra esquerda e viu uma placa azul com o nome da rua, seguiu no sentido oposto, uma senhora de vestido azul escuro caminhava com um cachorro que tinha os pêlos tingidos de vermelho, o cachorro sorriu amarelo e abanou o rabo avermelhadamente contente, do outro lado da rua um mendigo comia um pão seco esverdeado, um garoto amarelo pediu um cigarro, deu, pessoas sentadas na mesa preta de um bar com letreiros verdes conversavam sem se entender, caminhou, ouviu uma buzina: dois corpos branquelos e nús fornicavam deliciosamente dentro de um carro prata, mais adiante parou num bar escuro, ficou com nojo do balcão sujo de molho vermelho, o atendente tinha um olho de vidro amarelado e algo verde entre os dentes também amarelados, talvez cigarros de filtro amarelo, tirou os últimos dez reais do bolso, pediu alguma bebida forte, lhe serviram uma transparente, seguiu, o celular preto que tocou, olhou claramente e desligou, na escura janela de um prédio verde uma senhora segurava um copo com um líquido avermelhado, tinha os cabelos brancos, o rosto pálido, um ar melancólico, decidiu parar, fitaram-se, nenhuma palavra, durante cerca de trinta segundos se olharam, continou andando, a luz vermelha do farol de pedestre começou a piscar, parou na calçada, nenhum carro passava, cruzou olhares com um pedreste do outro lado da rua vestido com uma camiseta branca, calça e tênis preto, o farol ficou verde, seguiu, fazia frio, dentro e fora dele, continuou andando, ouviu a sirene de uma ambulância provavelmente branca, chegou em uma praça de onde se podia avistar grande parte da iluminada cidade, sentado num banco de madeira escura outro mendigo enrolado em um cobertor marrom comia um pedaço de carne crua que havia acabado de retirar de uma saco de lixo preto, sentou ao lado dele, ofereceu a bebida incolor, ele aceitou, acendeu o último cigarro, ficou com vontade de comer um pedaço e curioso em saber se a carne era de vaca ou frango perguntou:

- Carne ou frango?

- Não tá vendo que é vermelha? Só pode ser de vaca, porra!

- Eu sou portador de monocromacia, só enxergo preto, branco e cinza.

(Silêncio)

- ... de vaca!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Joaquim


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor comeu meu Estado e minha cidade. O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


[As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.]