domingo, 5 de abril de 2009

Ponto de Vista


Dia 15 de dezembro. Uma terça-feira. Cinco horas da tarde. Ele. Funcionário de uma metalúrgica. Todos os dias saia no mesmo horário. Caminhava pela mesma calçada. Olhava o horário no celular. Mascava um chiclete. Acendia um cigarro. Sentava. Aguardava. Hoje, em especial, estava impaciente. Ela nunca atrasava. Teria faltado? Ele odiava esperar. Quando a gente espera parece que o tempo corre mais devagar, já reparou? Ela já estava atrasada cinco minutos. Cinco minutos podem parecer pouco tempo, mas não pra ele, que dispunha apenas de 15, o tempo de o ônibus chegar. Com sete minutos de atraso, eis que ela surge. Ligeiramente apressada. Aproxima-se. Pára em meio às pessoas. Abre a bolsa. Pega o isqueiro. Um Bic. Tira um cigarro da cigarreira. Marlboro Light. Acende. Todos os dias se encontravam no mesmo horário, no mesmo ponto de ônibus. Excepcionalmente hoje, ela se atrasara. A relação entre os dois resumia-se a esses poucos minutos no ponto. Às vezes um olhar que se cruzava. Mas só. Todos os dias ele pensava em puxar algum assunto, mas censurava todas as suas idéias. Os dias passavam. Passavam. Passaram. A cena se repetia. Hoje, seria o último dia em que ele a veria, ela havia sido despedida. Seria a última vez que os dois se encontrariam naquele ponto, naquele horário, mas ele não sabia. Ela até chegou a olhar diferente pra ele um dia, mas não era de tomar iniciativa, e não passou disso. O ônibus chegou. Parou um pouco à frente. Ela se levantou e correu para alcançá-lo, na pressa, esqueceu uma mochila. Ele olhou para o lado, percebeu o objeto esquecido. Sorriu. Era a oportunidade que precisava para descobrir algo mais sobre ela. Sorriu pois pensou que pudesse haver na mochila como um telefone, um endereço. Não sei se entrou em contato com ela. Talvez tenha encontrado uma pista, ligado pra ela. Talvez tenham saído. Tenham se conhecido. Tenham transado. Estejam namorando. Só sei que EU, nunca mais o encontrei naquele ponto.
(R. Catalunha)

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