sexta-feira, 1 de maio de 2009

Por outro ponto de vista


...cruzou com uma criança de gorro rosa que lhe abriu um sorriso brilhante, seguiu, levou a mão cor da pele até o bolso esquerdo preto, pegou um isqueiro azul piscina, acendeu um cigarro branco de filtro amarelo, olhou pra esquerda e viu uma placa azul com o nome da rua, seguiu no sentido oposto, uma senhora de vestido azul escuro caminhava com um cachorro que tinha os pêlos tingidos de vermelho, o cachorro sorriu amarelo e abanou o rabo avermelhadamente contente, do outro lado da rua um mendigo comia um pão seco esverdeado, um garoto amarelo pediu um cigarro, deu, pessoas sentadas na mesa preta de um bar com letreiros verdes conversavam sem se entender, caminhou, ouviu uma buzina: dois corpos branquelos e nús fornicavam deliciosamente dentro de um carro prata, mais adiante parou num bar escuro, ficou com nojo do balcão sujo de molho vermelho, o atendente tinha um olho de vidro amarelado e algo verde entre os dentes também amarelados, talvez cigarros de filtro amarelo, tirou os últimos dez reais do bolso, pediu alguma bebida forte, lhe serviram uma transparente, seguiu, o celular preto que tocou, olhou claramente e desligou, na escura janela de um prédio verde uma senhora segurava um copo com um líquido avermelhado, tinha os cabelos brancos, o rosto pálido, um ar melancólico, decidiu parar, fitaram-se, nenhuma palavra, durante cerca de trinta segundos se olharam, continou andando, a luz vermelha do farol de pedestre começou a piscar, parou na calçada, nenhum carro passava, cruzou olhares com um pedreste do outro lado da rua vestido com uma camiseta branca, calça e tênis preto, o farol ficou verde, seguiu, fazia frio, dentro e fora dele, continuou andando, ouviu a sirene de uma ambulância provavelmente branca, chegou em uma praça de onde se podia avistar grande parte da iluminada cidade, sentado num banco de madeira escura outro mendigo enrolado em um cobertor marrom comia um pedaço de carne crua que havia acabado de retirar de uma saco de lixo preto, sentou ao lado dele, ofereceu a bebida incolor, ele aceitou, acendeu o último cigarro, ficou com vontade de comer um pedaço e curioso em saber se a carne era de vaca ou frango perguntou:

- Carne ou frango?

- Não tá vendo que é vermelha? Só pode ser de vaca, porra!

- Eu sou portador de monocromacia, só enxergo preto, branco e cinza.

(Silêncio)

- ... de vaca!

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